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segunda-feira, 9 de maio de 2011

WALLACE EM HOLLYWOOD - BRAVEHEART




Quando aparece no trailer ou no início do filme a frase
“baseado em uma história real”
saiba que quase com certeza você não verá a história real.
Se bem que seja difícil achar uma adaptação de livro ou quadrinhos que venha a ser fiel ao original, imagine quando é uma história que pouca gente conhece. Quando o filme é histórico, pior ainda,

pois diversos fatos passarão batidos pelo público se forem modificados.
Historiadores admitem que os filmes atraem a atenção do público em geral

de uma forma que livro nenhum conseguiria,

mas às vezes os erros históricos são grandes demais.

Existem diversas produções famosas

que deixam qualquer historiador babando de raiva.
Mesmo que alguns descendentes do próprio Wallace

tenham participado do filme, alguns pontos do filme dirigido por Mel Gibson fugiram muito do contexto histórico.
Para quem não viu o filme (o que acho difícil),
trata-se de uma biografia de William Wallace.





O mundo do cinema é conhecido como um lugar em que tudo é possível e, em Hollywood tudo pode acontecer e acontece. Voar, caminhar sobre as águas, erguer a mais pesada das rochas e parar no tempo. Nada escapa das possibilidades criativas dos diretores de cinema e especialistas em efeitos especiais.
Um filme histórico é um esforço de imaginação criativa bastante livre em relação às regras que presidem o exercício intelectual da historiografia. Trata-se, portanto, de mais uma leitura dentre diversas outras interpretações possíveis acerca de um dado tema. Sabemos da complexidade da leitura cinematográfica, com todas as especificidades de sua estética muito própria e singular. Como obra de arte, o filme não precisa e nem deve se esforçar por recompor os traços de uma realidade conforme aconteceu no passado.
Quando se diz: "Mas foi exatamente assim que aconteceu." Isto leva a uma discussão sobre o quanto do que "realmente aconteceu" deve entrar no roteiro. Se escrevermos próximo demais da maneira que aconteceu, não estaremos escrevendo um roteiro. Estaremos fazendo um documentário. O melhor conselho que eu já ouvi sobre o assunto veio de um livro maravilhoso sobre dramaturgia chamado "Write That Play" [Escreva Aquela Peça], de Kenneth Thorpe Rowe, publicado em 1939. Ele disse: "A vida deve ser transformada, não transferida." Falou e disse.
A exemplo da literatura, o cinema é uma representação da realidade e pode, também, omitir elementos de complexidade histórica que poderiam esvaziar o impacto visual de uma cena. Mas não será por essas “traições” que os historiadores deverão sair em defesa da revisão dos filmes históricos que supostamente distorcem a “verdade” histórica. E por uma simples razão: um roteiro de cinema é uma obra de arte livre. A história que um roteiro cinematográfico conta não possui nenhum compromisso inarredável com as verdades extraídas de evidências, ou seja, dos documentos históricos. Em boa parte dos casos, os filmes históricos premeditam a banalização do enredo para, apelando a dimensões emocionais do público, intensificar o seu conteúdo. De fato, esse espírito de dramatização de enredos que, aos olhos de hoje, poderiam ser considerados muito banais, conforma- se adequadamente aos necessários arranjos da linguagem cinematográfica.

Assim sendo, não incorrem em erro os que encaram o filme como produto calculista daquilo que se tornou um poderoso ramo da indústria cultural desde os inícios do século passado: o cinema. Há somas vultosas — freqüentemente na escala dos milhões — investidas no financiamento de projetos, na aquisição dos equipamentos de alta tecnologia, na remuneração dos atores e do pessoal especializado, na contratação dos distribuidores mais eficientes, no aluguel das salas de exibição, etc., etc. Girar essa grande máquina é uma “arte” que demanda alguns alentados cifrões, e a palavra mágica nunca deixará de ser uma só: bilheteria.


Entretanto, o cinema é também, e acima de tudo, arte, em sua acepção plena. Se essa arte é capaz de manter uma indústria poderosa e sustentar um rico comércio, não deve ser confundida com eles, como se da mesma coisa se tratasse. Como lembra Roger Boussinot em L’encyclopédie du cinéma, um filme não é um simples “produto industrial”.


As obras cinematográficas são realizadas, muitas vezes, à revelia de alguns imperativos da indústria do entretenimento.
Admitindo-se esses pressupostos, pode-se argumentar que um bom filme histórico deverá ser capaz de recompor os traços característicos do passado em imagens, de modo a provocar a percepção do desterramento do observador.


Um bom filme no gênero será aquele que consiga despertar no espectador certa sensação de transporte para outra dimensão do tempo histórico. De fato, uma das virtudes de um filme histórico como obra de arte e artefato de entretenimento de massas é demarcar as nuanças mais sensíveis entre a época que foi reconstituída e o tempo presente. Denominemos a isso efeito de mimese, ou seja, a imitação ou o esforço de recriação da realidade pela obra ficcional. Mas, como reflete Antonio Candido em O discurso e a cidade, a propósito da literatura, “o sentimento da realidade na ficção pressupõe o dado real mas não depende dele”. Trata-se de uma imitação, mas de uma imitação narrada de maneira que transmita a impressão de uma realidade verossímil, passível de ter realmente ocorrido.


Com o discurso cinematográfico ocorre processo semelhante: a história que se conta não é a história propriamente dita, as coisas como se passaram realmente.
Ao tentar produzir a ilusão de uma realidade passada por meio da representação artística, portanto de uma história real, o filme histórico, para ser bom, deve “forçar” ou guiar o seu espectador ao exercício intelectual de tentar repensar as idéias e o sentido das ações dos personagens do passado contrastando- os com as suas próprias idéias sobre os temas em discussão. Isso significa que um filme histórico pode e deve provocar reações ao fazer virem à tona temas para pensar e discutir na dimensão do tempo presente.
CORAÇÃO VALENTE é dessa linhagem de filmes históricos. Ao combinar biografia e História, ou seja, uma trajetória pessoal contrastada com os valores e com a dinâmica de uma dada cultura, ele recompõe um passado distante de forma convincente. Mas, sem perder de vista o conteúdo de entretenimento da narrativa histórica do filme, não se podem desconsiderar as dimensões presentistas que também orientam a produção desta e das demais obras cinematográficas. E diz-se presentista no sentido atribuído por Benedeto Croce à expressão, o de que toda História é história contemporânea. Isso deve significar que a História narrada em qualquer de suas versões — incluindo a dos filmes — é sempre expressão da sociedade na qual é criada, com as marcas características de sua própria cultura, o que a torna forte candidata ao cometimento de toda sorte de anacronismos.
Aliás, se a escrita da História profissional é concebida pelos próprios historiadores como um exercício calculado de anacronismo, que dizer de uma trama narrada por obras ficcionais? Como afirma o historiador norte-americano Mark Carnes em Passado imperfeito, a História no Cinema, até mesmo os filmes históricos que pretendem retratar o passado são bastante reveladores da própria época de sua produção: “Bonnie and Clyde, 1967, revelava mais sobre sexo nos anos 60 do que sobre gangsters dos anos 30”.
Assim sendo, pode-se afirmar que o cinema não é um empreendimento que objetiva escrever História, que em nome da expressão artística o cinema freqüentemente é um agente de deturpação da história. Como obra de arte, o filme histórico é antes de tudo uma idealização, e seria atitude intelectual ingênua e equivocada esperar encontrar nele a história dos historiadores. Assim é que, diante de um filme histórico, será preciso ficar atento à sua magia, magia esta expressa em sua capacidade de criar a ilusão da realidade.


Ora, o filme molda uma percepção da história que, em diferentes graus, é freqüentemente enganosa. Entretanto, há muito que as relações entre o cinema e a História estão consolidadas; e em diversos níveis, incluindo o didático. E isso é ótimo.


Ao professor que utiliza o cinema como peça auxiliar de ensino caberá a competência teórica para fazer dele um instrumento eficaz.
Coração Valente é o filme que todo mundo já viu e que todo mundo gosta. Quem se importa com o roteiro maniqueísta cheio de furos históricos e preconceitos quando você tem batalhas onde discursos inflamados são feitos antes de carnificinas que são mostradas nos mínimos detalhes?
O vencedor de 5 Oscars, é um épico que tem a duração de aproximadamente 177 minutos. O roteiro, escrito por Randall Wallace (Wallace afirma ser descendente do herói do filme, informação que ele mesmo reconhece não ter como comprovar, mas que também não tem como ninguém dizer o contrário; então tá!...) foi escrito com o intuito de que o filme fosse “baseado em fatos históricos”.
As famosas “licenças dramáticas”, no entanto, permitiram que os kilts fossem usados pelos escoceses em uma época onde não existia essa prática, que colocassem em dúvida a paternidade de um dos filhos do Príncipe de Gales, alegando que ele seria de Wallace quando, na verdade, o guerreiro morreu 10 anos antes, do tal filho ter nascido e, claro, o fato do mesmo Príncipe ser mostrado como um provável homossexual em uma tentativa de provocar uma antipatia no público para com o personagem e seus gestos extravagantes, quando o seu correspondente natural, foi pai de pelo menos cinco crianças. Claro que isso não quer dizer muita coisa, mas não havendo nenhum outro registro de que ele fosse gay, a caracterização foi entendida como homofobia e gerou protestos de grupos homossexuais.
Apesar das batalhas sangrentas, nos momentos de paz o filme toma um clima sublime que mais parece um conto de fadas, um ar de serenidade que é apenas enriquecido com a trilha sonora magistral e repleta de solos de flauta e gaitas de fole composta por James Horner (Avatar), mostrando como seriam todos os dias se o sonho de todos os escoceses fosse realidade, uma palavra que consegue definir 3 horas de filme e a determinação de um líder: LIBERDADE.




Nos primeiros minutos vemos um William ainda pequeno vivendo numa fazenda na Escócia com seu irmão John e seu pai Malcolm Wallace, que depois de um tempo voltam mortos da batalha contra as forças inglesas, deixando o pequeno garoto aos cuidados de seu tio Argyle (Brian Cox), que o leva dalí para viver com ele e ensiná-lo a usar a cabeça para só depois ensiná-lo a usar a espada. Anos depois Wallace retorna a sua terra natal, já um homem formado, conhecedor do mundo e muito culto, além fluente em latim e francês, só desejando reconstruir sua casa, formar uma família com seu antigo amor de infância, Murron, e viver em paz na fazenda que era de seu pai.
Para oprimir mais ainda os escoceses, Longshanks declara regime de Prima Nocte (primeira noite), que consiste em: sempre que houver um casamento, a noiva deve passar a noite de núpcias com um nobre inglês, e não com seu marido. Por esse motivo William e Murron se casam escondidos numa floresta. No dia seguinte um soldado inglês tenta molestar Murron por desconfiar do relacionamento dos dois, que se defendem, porém acabam caçados pelos ingleses, e no meio do alvoroço a moça é capturada e assassinada por um juiz inglês para atrair William. E neste momento a lenda se inicia…



Segundo os historiadores, o rei Edward I nunca instituiu o recurso da primae noctis (que permitia a nobres e oficiais ingleses tirar a virgindade de uma noiva no dia de seu casamento).
Durante o filme os escoceses usam kilts nas batalhas, coisa que não é provável segundo eles.
Outro ponto complicado é o romance entre Isabella e Wallace, porque no período retratado no filme ela era apenas um bebê. Assim como Edward II, que aparece como um adulto no filme e neste período deveria ter apenas 13 anos.
Coração Valente também exagera o problema existente entre Inglaterra e Escócia, pois no século XIII os dois países viviam um período de relativa paz que já durava quase 100 anos e o povo deste país em geral não exigia ser livre dos ingleses.


Não tendo mais motivos para viver em paz ele começa liderando uma pequena tropa, mas a medida que vence as batalhas a tropa ganha mais e mais aliados, se tornando um exército temido lutando pela libertação de uma nação. Por todos os cantos se ouvem rumores do guerreiro William Wallace, que possui 2 metros de altura e pode vencer sozinho mais de 100 homens, claro que não eram verdadeiros, porém eram prova da fama deste nome.

O filme já começa cometendo pecados históricos, mas, como eu disse, esses anacronismos existentes no filme, são detalhes que passam a ser meras curiosidades quando entramos dentro daquele mundo. As batalhas, que ocuparam mais de 90 horas de material gravado, marcaram tanto pela coordenação de um número sem fim de figurantes, do uso de cavalos mecânicos construídos especialmente para a cena (que ficaram tão reais que o diretor foi investigado por associações de proteção aos animais por cenas onde eles são “maltrados”), pelos discursos anteriores as batalhas que viraram moda nos épicos posteriores e, claro, pela violência explícita que passaria a ser uma constante nos trabalhos seguintes do diretor (Paixão de Cristo e Apocalypto). Gibson pode até parecer velho demais para o papel de Wallace (conta-se que ele só interpretou o personagem por exigência da Paramount), mas como diretor o trabalho dele foi preciso (embora alguns contestem): Coração Valente é emocionante, tem boas cenas de ação, boas atuações e, apesar das simplificações que muitas vezes tornam os personagens unilaterais, passa uma bela mensagem sobre viver intensamente e não sujeitar-se a governos tiranos. “FREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEDOM!!!”

(pode até soar piegas mas, quase 16 anos depois, ainda é emocionante pra chuchu!)




"Liberdade é a melhor de todas as coisas a ser conquistada, a verdade, lhe digo então: nunca viva com os grilhões da escravidão, meu filho"
(Willian Wallace)

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